
A série “O Eternauta”, uma das grandes apostas internacionais da Netflix em 2025, conquistou público e crítica rapidamente, e já teve sua segunda temporada confirmada poucos dias após a estreia. Baseada na icônica HQ argentina escrita por Héctor Germán Oesterheld e ilustrada por Francisco Solano López, a produção levou para as telas uma das narrativas mais cultuadas da América Latina em uma adaptação densa, emocional e carregada de crítica social.
Mas o que explica o sucesso da série em tão pouco tempo? E como a primeira temporada de “O Eternauta” constrói um universo pós-apocalíptico que conversa com o nosso presente? Neste artigo, fazemos uma análise profunda da temporada inaugural e discutimos as possibilidades para o futuro da trama.
O enredo de “O Eternauta”: ficção científica com alma política
A história de “O Eternauta” começa com uma catástrofe de proporções globais: uma misteriosa nevasca tóxica atinge Buenos Aires, matando instantaneamente qualquer pessoa exposta a ela. O fenômeno é apenas o primeiro sintoma de uma invasão alienígena que ameaça extinguir a humanidade.
No centro desse caos está Juan Salvo, interpretado pelo renomado ator Ricardo Darín, um homem comum que se transforma em herói por necessidade, não por escolha. Ao lado de sua família e de um pequeno grupo de sobreviventes, Salvo precisa enfrentar uma sucessão de ameaças que vão desde o clima letal até criaturas alienígenas controladas por uma inteligência superior, conhecida apenas como “os Ellos”.
Esse contexto cria uma narrativa de sobrevivência intensa e angustiante, ao mesmo tempo em que funciona como alegoria política — um dos aspectos mais marcantes da obra original. A série, assim como o quadrinho, propõe uma reflexão sobre regimes autoritários, resistência civil e o papel do cidadão comum diante do colapso social.
Uma adaptação fiel, mas atualizada para novos públicos

A adaptação da Netflix mantém a essência crítica e filosófica da HQ, mas faz atualizações pontuais para dialogar com o espectador contemporâneo. Ambientada na Buenos Aires atual, a série utiliza efeitos visuais de ponta e uma estética cinematográfica de alto nível para criar um mundo crível, desolador e visualmente impactante.
As cenas externas, muitas vezes filmadas com filtros azulados e tons frios, ajudam a reforçar o sentimento de isolamento e desespero. Já o design de som e a trilha sonora colaboram para manter o clima tenso do início ao fim.
Além disso, a escolha de Ricardo Darín como protagonista é um dos grandes trunfos da produção. Seu desempenho contido, mas emocionalmente poderoso, traz profundidade ao personagem principal e dá credibilidade à narrativa, mesmo nos momentos mais surreais.
A primeira temporada: estrutura e destaques narrativos
Composta por seis episódios, a primeira temporada de “O Eternauta” é construída em forma de crescendo narrativo. O piloto estabelece a catástrofe e os primeiros momentos de adaptação dos personagens, enquanto os episódios intermediários exploram o desenvolvimento emocional dos sobreviventes e revelam mais detalhes sobre a natureza da ameaça alienígena.
Os episódios finais aceleram o ritmo e introduzem reviravoltas importantes, que não apenas chocam o espectador, mas também abrem espaço para o desenvolvimento de temas mais complexos na próxima temporada. Entre os momentos mais impactantes estão:
- A revelação sobre o verdadeiro controle mental dos inimigos;
- A transformação psicológica de Juan Salvo diante da perda e do medo;
- O dilema moral entre proteger os seus ou lutar por todos.
A série também faz bom uso de flashbacks e camadas temporais, incluindo um recurso narrativo onde o próprio Salvo parece estar contando sua história a alguém — um eco direto da HQ original.
Temas centrais: resistência, memória e identidade
Mais do que uma simples narrativa de ficção científica, “O Eternauta” se destaca por explorar temas profundos com ressonância social e histórica. O próprio criador da HQ, Oesterheld, foi vítima da ditadura militar argentina nos anos 1970, o que torna a obra ainda mais simbólica.
Na série, o inimigo não é apenas uma entidade alienígena, mas também o sistema que desumaniza e destrói. A figura do herói coletivo é central: a sobrevivência não depende de um escolhido com superpoderes, mas de pessoas comuns que se organizam, resistem e protegem umas às outras.
A série também questiona a linearidade do tempo e a memória — o protagonista se torna uma espécie de viajante, um eterno retorno ao mesmo ponto do caos. Isso levanta questões filosóficas sobre destino, livre-arbítrio e a repetição histórica de tragédias humanas.
Recepção crítica
Desde sua estreia, “O Eternauta” tem recebido elogios da crítica especializada, principalmente pela fidelidade à obra original e pela ambição em tratar de temas políticos em um formato de entretenimento de massa. A performance de Darín, a direção artística e o roteiro foram especialmente destacados.
A série também alcançou bons números de audiência, figurando entre os conteúdos mais assistidos da Netflix na Argentina e em vários países da América Latina. Isso confirma a força cultural da obra, que continua relevante mesmo décadas após sua criação.
Nas redes sociais, muitos fãs elogiaram a forma como a série adapta a HQ sem perder sua alma. Houve também uma redescoberta da obra original, com aumento nas buscas por edições da história em quadrinhos.
O que esperar da segunda temporada de “O Eternauta”?
Com o final da primeira temporada deixando várias perguntas no ar, a segunda fase promete explorar ainda mais o universo criado por Oesterheld. Entre as possibilidades, estão:
- A expansão do foco para outras regiões além de Buenos Aires;
- A origem dos “Ellos” e seus verdadeiros objetivos;
- Viagens temporais mais claras e seus efeitos narrativos;
- O aprofundamento do papel de Salvo como símbolo da resistência.
Além disso, há espaço para introduzir novos personagens, novos núcleos de sobreviventes e novas abordagens narrativas, como a perspectiva dos invasores ou dos que traíram seus semelhantes em troca de poder
“O Eternauta” é mais que ficção científica — é um espelho da humanidade
A primeira temporada de “O Eternauta” na Netflix mostrou que ainda é possível fazer ficção científica com profundidade, emoção e crítica social. A série vai além do espetáculo visual e nos faz refletir sobre temas urgentes como solidariedade, resistência, opressão e identidade coletiva.
Com a segunda temporada já confirmada, a expectativa é que a produção continue honrando o legado da HQ, ao mesmo tempo em que expande seus horizontes narrativos e visuais. Para quem busca uma história